De onde vem mais lixo: do bairro nobre ou do bairro humilde? Apesar dos considerados "ricos" terem poder aquisitivo para consumir muito mais, a coleta de lixo urbano residencial, em Vitória, prova que os "pobres" são quem produzem mais resíduo sólido.
Hoje, enquanto em bairros considerados nobres, com a maioria da população de classes A, B e C, a média de lixo produzido por dia é de 1,2 quilo, as regiões com maioria da população de classes C, D e E dispensam 1,5 quilo, por morador, a cada dia.
O motivo seria o desperdício de comida, segundo o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana do Espírito Santo (Selures). "O dado é histórico, e difícil de mudar. Infelizmente, as áreas mais afetadas pela pobreza são, de fato, as que mais jogam comida fora. No final, é o resto de comida que pesa no lixo", avalia Marco Antônio Pinheiro, diretor-presidente do Selures.
"O morador vai separar o lixo seco do lixo úmido e colocar, na rua, o úmido, deixando o seco para o catador de rua. Assim o reciclado não vai pro aterro, esse é o maior objetivo do projeto"
André Brandino, sucateiro e líder comunitário
André Brandino, sucateiro e líder comunitário
"Quando tem renda melhor, a classe mais baixa compra mais. Há mais desperdício, mas também há mais produtos eletrônicos trocados por modelos mais novos; há mais pequenas reformas dentro de casa... E esses entulhos e sobras acabam na rua, misturados aos outros lixos e pesando no final da coleta", analisa o secretário de Serviços Urbanos, Romário Castro.
Educação
A saída estaria em mais Educação. "Falta oportunidade. Muitos nem sabem como reciclar ou aproveitar ao máximo um alimento. Precisamos de uma política de conscientização para conseguir mudar tal realidade. As escolas deveriam ensinar isso em sala de aula, aos pequenos", diz o diretor-presidente do sindicato.
Para o secretário municipal, outra saída é alertar a população sobre o risco de despejar o lixo em áreas proibidas, nos famosos pontos viciados. "Enquanto a região da Praia do Canto tem dois pontos, São Pedro tem mais de 50. A maioria do lixo coletado, nessa situação, está em praças e terrenos baldios", conta Castro.
Características
Enquanto na Praia do Canto a cidade coleta 47 toneladas de lixo nas casas e lojas, sobrando 6,6 toneladas nos pontos viciados, a região de São Pedro concentra 33,5 das quase 50 toneladas,jogados ao dia pelas ruas. "A coleta é mais demorada e complicada", resume o secretário.
André Brandino, de 30 anos, quer mudar esse cenário, e por conta própria. Líder comunitário de Santo André e dono de uma sucata da Ilha das Caieiras, resolveu passar de porta em porta na casa da vizinhança, dando sacolas e ensinando todos a separar o lixo seco do úmido.
"Temos que aprender a respeitar o ambiente em que vivemos", frisa André, que compra até óleo de cozinha, para reciclar.
Coleta seletiva na Ilha das Caieiras é feita sem esperar o município
Coleta seletiva na Ilha das Caieiras é feita sem esperar o município Na região onde mora o sucateiro André Brandino, de 30 anos, lixo vale dinheiro. Ele mora em Santo André, é dono de uma sucata, em Ilha das Caieiras, compra material reciclável dos catadores e ainda negocia 1 litro de óleo de cozinha por um vale de R$ 0,25, trocado em padarias do bairro. O projeto, agora, é ensinar vizinhos a separar o lixo e iniciar uma coleta seletiva na região, por conta própria.
Raio-x do Lixo
Em casa
Estrutura
Mais de 20 caminhões trabalham, todo dia, no coleta de lixo, em Vitória, de porta em porta, para coletar cerca de 300 toneladas de lixo, por dia, na cidade
Na rua
Coleta seletiva
Hoje, não há coleta seletiva porta a porta, na Grande Vitória. A Prefeitura da Capital disponibiliza lixeiras especiais em locais públicos, onde os moradores devem levar o lixo seco
No aterro
Tudo misturado
Na área de transbordo, o lixo residencial, sem qualquer separação, é despejado em outro caminhão, coberto por uma lona e encaminhado para o aterro sanitário, em Cariacica
Nos municípios
Por dia
O aterro recebe 1,5 mil toneladas de resíduo sólido, por dia, de oito municípios do Estado, incluindo Vitória, Serra e Cariacica
Em lixões
Risco
No Brasil, 70% dos resíduos vão parar em lixões, sem tratamento correto, contaminando o solo e rios
A céu aberto
Diminuição
O Espírito Santo já teve 102 depósitos a céu aberto, mas 50 foram fechados em 2006
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